
"Éramos 15 irmãos, e acordávamos às 4 da manhã, quando o dia já expulsava a noite. O galo cantava muito, fazendo de mim e do mundo a sua platéia. Os pássaros que não deviam nada a ninguém, já tinham se acordado mais cedo que nós, e ao voar eles preenchiam e coloriam o céu, dando mais cor ao nosso mundo.
Morávamos no sítio do homem bom,
mais conhecido como o saco da Maricota, sítio que sempre pertenceu a ouricuri.
Nossa casa começava pela sala de star, que se dava entrada para 2 quartos, na
sala se tinha 2 bancos compridos de madeira e um rádio abc voz de ouro, movido à
pilha. Na sala se dava entrada para 2 quartos, e era na cozinha que se
terminava a casa.
Depois do café da manhã, íamos para a roça, e lá plantávamos de montão:
milho, feijão, amendoim, fafá, jerimum, abóbora, andu, melância, mamona, batata...
Tínhamos o intervalo para voltarmos para casa e almoçarmos, e voltando
para a roça dávamos continuidade ao trabalho. E era às 5 da tarde que
terminávamos o trabalho. O sol mandava irmos voltar para casa, pois ele já
avisava que logo chegaria noite.
Nos domingos havia em Trindade, cidade mais próxima de onde morávamos, a
Feira do Toco, onde de tudo se tinha um pouco para vender. Meus pais iam pela
estrada de chão galopando nos seus cavalos até lá, para comprarem o pouco que
faltava em nossa casa.
Por motivos de não poder pagar os estudos para todos nós, papai pagava
ao professor para ensinar somente a nossa irmã mais velha e ao nosso irmão
caçula. Mas o que o nosso pai sabia, ele ensinava a nós, e era nos sábados que
a gente rezava o ofício de Nossa Senhora para poder então se deitarmos.
Naquele tempo, por falta das condições, era nós mesmos que fazíamos os
nossos bonecos, casinhas e currais de boi. Nossas bonecas eram de sabugo de
milho, e enganchado numa cerca de vara era colocado a folha de marmeleiro
favorecendo a nós uma boa sombra.
O tempo foi passando, e no decorrer da minha vida, fui amadurecendo e
descobrindo novos horizontes. Namorei quando mais crescida, no qual ainda se
era de respeito, a distância namorávamos por cartas e bilhetes, onde até hoje
eu acho romântico.
Casei-me e poucos anos depois, por motivos de doenças e outros mais se
mudamos para a cidade, em que as ruas ainda eram de terra. A cidade naquele
tempo era menor do que é hoje. Tempos depois já divorciada, à conselho de meus
filhos fui estudar o Travessia, tendo mais conhecimento ainda.
Hoje eu conto e reconto aos meus filhos, netos, e para quem mais quiser
saber, sobre a maravilhosa infância que tive, sempre recordando as maravilhas
desse sítio, quando naquele tempo se
criava até porco, quando subíamos no pé de goiaba, que ficava bem perto da
casinha, em que se colocava para os bois o alimento deles.
O tempo passa, e muito rápido, mas de uma coisa eu tenho certeza: o
tempo não apaga as boas e velhas lembranças que ao longo da vida guardamos em
nossos corações e memórias."
Markleine Alencar
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